Por uma cartografia do (r)existir cotidiano: o viver e as práticas espaciais da comunidade LGBTQIA+ no município de Pelotas

Conteúdo do artigo principal

Pedro de Moura Alves
https://orcid.org/0000-0003-4291-1104
Gabriela Pecantet Siqueira
https://orcid.org/0000-0002-1548-2300
Tiaraju Salini Duarte
https://orcid.org/0000-0001-6817-0952

Resumo

O presente trabalho discute a construção de uma cartografia social da resistência LGBTQIA+ no espaço urbano do município de Pelotas. A análise é fruto da aproximação de duas pesquisas acadêmicas, sendo a primeira um trabalho de conclusão de curso de licenciatura em Geografia  intitulado “As múltiplas territorialidades do medo e violência LGBTQIA+ na cidade de Pelotas: Corpos em processo de exclusão” e o segunda um projeto desenvolvido junto ao grupo de pesquisa “Margens: grupos em processo de exclusão e suas formas de habitar Pelotas/RS” que investiga como os atores pertencentes a comunidade LGBTQIA+ fazem-cidade e exercem seu direito à cidade. Frente a esta apresentação, o objetivo do presente artigo é identificar e cartografar as violências vivenciadas e as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por quem é LGBTQIA+ na cidade de Pelotas, possibilitando neste sentido construir recursos didáticos voltados a conscientização desta situação. Em termos metodológicos, para elencar os pontos que seriam marcados em nossa cartografia recorremos, além das pesquisas mencionadas anteriormente, a revisão bibliográfica de trabalhos que abordam questões relacionadas a pessoas LGBTQIA+ no contexto de Pelotas e que tratassem de lugares ou acontecimentos que envolvessem formas de resistência na cidade. O caminho que seguimos para construção da cartografia teve grande influência dos entendimentos, expostos no artigo “Mapas, mapeamentos e a cartografia da realidade”, do geógrafo Seemann (2003). Além disso, para a realização do artigo foram utilizados vídeos, colagens digitais, colagens digitais em vídeos, narrativas, imagens, como formas de representar um cenário urbano que está em constante movimento, construído e reconstruído pela incessante relação entre periferias e centro (AGIER, 2015). Como base conceitual, partimos de um entendimento de resistência formulado por Michel Foucault (1988). Como resultados, podemos visualizar que a cartografia possibilitou identificar locais considerados seguros ou representativos (MAGNANI, 1993) que puderam inclusive se apresentar como formas táticas (CERTEAU, 2008) para fazer-cidade e exercer o direito à cidade (AGIER, 2015) - de pessoas LGBTQIA+. Estes elementos foram explorados por nós como forma de apresentar com diferentes linguagens e possibilidades, por meio da elaboração dos recursos didáticos, uma cidade de Pelotas que é feita de resistência, ainda que em suas dinâmicas existem inúmeras situações de violência. Assim, utilizamos da cartografia como forma de contar, como coloca Jörn Seemann (2003), que a cidade é feita por pessoas LGBTQIA+ através da articulação criativa de ações de lutas e táticas cotidianas para contornar estas violências. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Detalhes do artigo

Como Citar
Alves, P., Siqueira, G., & Duarte, T. (2023). Por uma cartografia do (r)existir cotidiano: o viver e as práticas espaciais da comunidade LGBTQIA+ no município de Pelotas . Metodologias E Aprendizado, 6, 207–215. https://doi.org/10.21166/metapre.v6i.3257
Edição
Seção
Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares
Biografia do Autor

Pedro de Moura Alves, Universidade Federal de Pelotas

Pisciano com ascendente em peixes, Pansexual , Licenciado em Geografia pela UFPEL, integrante do Projeto de Extensão "Mapeando a Noite: O Universo Travesti" (GEEUR/UFPel). Participante do grupo Geografia Política, Geopolítica e Territorialidades (LEUR/UFPEL). Apaixonado por Fotografia, Colagens Digitais, Jogos Digitais, Memes LGBTQIA+ e leitura com perspectiva pós-estruralista. Pesquisa sobre territorialidades, violências e resistências das comunidades LGBTQIA+ na cidade de Pelotas. 

Gabriela Pecantet Siqueira, Universidade Federal de Pelotas

Mestra em Sociologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), graduanda no Bacharelado em Antropologia pela UFPel, na linha de formação em Antropologia Social e Cultural, e Bacharela em Direito (2015) pela UFPel. Integra os projetos de pesquisa Interseccionalidades e tecnologias da informação: novas formas sociais, subjetivas e de identidade (PPGS, UFPel) e Margens: Grupos em processos de exclusão e suas formas de habitar Pelotas/RS (GEEUR/DAA, UFPel). Desenvolve pesquisas nas áreas da Sociologia do Trabalho, Sociologia Disposicional e da Antropologia Urbana, com ênfase nos seguintes temas: sentidos do trabalho, trabalho informal, narrativas de mulheres, narrativas imagéticas e etnografias de resistência urbana. 

Tiaraju Salini Duarte, Universidade Federal de Pelotas

É professor Adjunto da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Doutor em Geografia Humana com ênfase em planejamento territorial pela Universidade de São Paulo - USP. Formado em Geografia pela Universidade Federal de Pelotas e Mestre em Geografia com foco em planejamento regional pela Universidade Federal de Rio Grande - FURG. Foi professor adjunto da Universidade Federal de Goiás (regional Goiânia) nos anos de 2017 e 2018, atuando junto aos cursos de Geografia (licenciatura e bacharelado) e Ciências Ambientais. É líder do Grupo de pesquisa GEOTER (Geografia Política, Geopolítica e Territorialidades) cadastrado no CNPQ. Coordena atualmente os projetos de pesquisa: "Geografia e tráfico de drogas: Redes, segurança pública e as disputas por territórios na fronteira do Brasil com o Uruguai"; e Geopolítica e Territorialidades: campos hegemônicos e contra-hegemônicos. Orienta pesquisas a nível de Graduação e Pós-Graduação (mestrado) junto a Universidade Federal de Pelotas, sendo membro permanente no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPel. Atua nas áreas de Geografia Política, Territorialidades, Planejamento territorial, Segurança Pública e violência Urbana

Referências

ALVES, Pedro de Moura. DUARTE, Tiaraju Salini. As múltiplas territorialidades do medo e violência lgbtqia+ na cidade de Pelotas/rs: corpos em processo de exclusão. 2021. TCC(Graduação) - Licenciatura em Geografia, Departamento de Ciências Humanas - ICH, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2021.

AGIER, Michel. Do direito à cidade ao fazer-cidade. O antropólogo, a margem e o centro. Mana. V. 21, n. 3. 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0104-93132015v21n3p483 DOI: https://doi.org/10.1590/0104-93132015v21n3p483

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes. 2008.

COSTA, Vanessa Avila. As manifestações das paisagens ocultadas: arqueologia da Pelotas de trabalhadoras sexuais. 162f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2020.

FILHO, Rubens Amador. O jornal que ousou investigar a fama de Pelotas. In.: CAZARRÉ, Lourenço (org.). 50 tons de rosa. 2016.

FOUCAULT, Michel. El Pensamiento Del Afuera. Valencia: Pré-textos, 1988.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 20.ed. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Graal, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

INGOLD, Tim. Human cognition is intrinsically social, developmental and historical. Social Antropology. V. 1, n.23. 2015. https://doi.org/10.1111/1469-8676.12112 DOI: https://doi.org/10.1111/1469-8676.12112

IWASSO, Vitor Rezkallah. Copy/paste: algumas considerações sobre a colagem na produção artística contemporânea. ARS (São Paulo). São Paulo. Vol.8, n.15, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1678-53202010000100004 DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-53202010000100004

PASSINI, E. Y. Alfabetização cartográfica e a aprendizagem da Geografia. São Paulo: Cortez, 2012. 216 pg

SEEMANN, J. (2003). Mapas, mapeamentos e a cartografia da realidade. Geografares, (4). https://doi.org/10.7147/GEO4.1080 DOI: https://doi.org/10.7147/GEO4.1080

SOUZA, Marcelo J.L. O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, I. E.; CORRÊA, R.L.; GOMES, P.C.C. Geografia: conceitos e temas. 2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000