Por uma cartografia do (r)existir cotidiano: o viver e as práticas espaciais da comunidade LGBTQIA+ no município de Pelotas
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Resumo
O presente trabalho discute a construção de uma cartografia social da resistência LGBTQIA+ no espaço urbano do município de Pelotas. A análise é fruto da aproximação de duas pesquisas acadêmicas, sendo a primeira um trabalho de conclusão de curso de licenciatura em Geografia intitulado “As múltiplas territorialidades do medo e violência LGBTQIA+ na cidade de Pelotas: Corpos em processo de exclusão” e o segunda um projeto desenvolvido junto ao grupo de pesquisa “Margens: grupos em processo de exclusão e suas formas de habitar Pelotas/RS” que investiga como os atores pertencentes a comunidade LGBTQIA+ fazem-cidade e exercem seu direito à cidade. Frente a esta apresentação, o objetivo do presente artigo é identificar e cartografar as violências vivenciadas e as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por quem é LGBTQIA+ na cidade de Pelotas, possibilitando neste sentido construir recursos didáticos voltados a conscientização desta situação. Em termos metodológicos, para elencar os pontos que seriam marcados em nossa cartografia recorremos, além das pesquisas mencionadas anteriormente, a revisão bibliográfica de trabalhos que abordam questões relacionadas a pessoas LGBTQIA+ no contexto de Pelotas e que tratassem de lugares ou acontecimentos que envolvessem formas de resistência na cidade. O caminho que seguimos para construção da cartografia teve grande influência dos entendimentos, expostos no artigo “Mapas, mapeamentos e a cartografia da realidade”, do geógrafo Seemann (2003). Além disso, para a realização do artigo foram utilizados vídeos, colagens digitais, colagens digitais em vídeos, narrativas, imagens, como formas de representar um cenário urbano que está em constante movimento, construído e reconstruído pela incessante relação entre periferias e centro (AGIER, 2015). Como base conceitual, partimos de um entendimento de resistência formulado por Michel Foucault (1988). Como resultados, podemos visualizar que a cartografia possibilitou identificar locais considerados seguros ou representativos (MAGNANI, 1993) que puderam inclusive se apresentar como formas táticas (CERTEAU, 2008) para fazer-cidade e exercer o direito à cidade (AGIER, 2015) - de pessoas LGBTQIA+. Estes elementos foram explorados por nós como forma de apresentar com diferentes linguagens e possibilidades, por meio da elaboração dos recursos didáticos, uma cidade de Pelotas que é feita de resistência, ainda que em suas dinâmicas existem inúmeras situações de violência. Assim, utilizamos da cartografia como forma de contar, como coloca Jörn Seemann (2003), que a cidade é feita por pessoas LGBTQIA+ através da articulação criativa de ações de lutas e táticas cotidianas para contornar estas violências.
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