Os territórios da degradação do trabalho na região sul e o arranjo organizado a partir da COVID-19 A centralidade dos frigoríficos na difusão espacial da doença
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Resumo
O novo Coronavírus (SARS-CoV-2) ofereceu aos setores científico, político e econômico uma diversidade de desafios. Um deles é a difusão espacial da doença, que apresenta padrão urbano-rodoviário considerando sua concentração e dispersão no território. O presente artigo amplia essa análise incorporando atividades e serviços prioritários, como os frigoríficos, enquanto mais um fator de difusão espacial da doença, especialmente em sua fase de interiorização no Brasil. A avaliação foi desenvolvida a partir de relações entre frigoríficos e a ocorrência da COVID-19 na Região Sul, analisadas a partir do conceito de territórios da degradação do trabalho e da dinâmica processual da saúde-doença e seus múltiplos determinantes. Os dados relativos à localização dos vínculos e empreendimentos em frigoríficos e os casos confirmados da doença por município foram submetidos a mapeamento utilizando modelos convencionais da cartografia temática e técnicas de geoestatística. Os resultados sugerem áreas críticas e potencialmente críticas, considerando a similaridade e a difusão espacial da doença no âmbito local e regional. Aponta também para a preocupação com a disseminação da doença em virtude dos movimentos pendulares de trabalhadores e trabalhadoras e aponta os frigoríficos como potenciais centros de difusão da COVID-19 nos estados da Região Sul. Em síntese, a relação capital-trabalho e o processo saúde-doença se apresentam como uma das faces das relações sociais de produção e relações assimétricas de poder na sociedade capitalista que colocam os agravos à saúde do/a trabalhador/a como tendência objetiva e não acidental, fortuita ou natural.
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