Os territórios da degradação do trabalho na região sul e o arranjo organizado a partir da COVID-19 A centralidade dos frigoríficos na difusão espacial da doença

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Fernando Mendonça Heck
https://orcid.org/0000-0003-2209-8363
Lindberg Nascimento Júnior
https://orcid.org/0000-0003-0276-2933
Roberto Carlos Ruiz
https://orcid.org/0000-0002-1808-8704
Fabrício Augusto Menegon
https://orcid.org/0000-0003-4516-6162

Resumo

O novo Coronavírus (SARS-CoV-2) ofereceu aos setores científico, político e econômico uma diversidade de desafios. Um deles é a difusão espacial da doença, que apresenta padrão urbano-rodoviário considerando sua concentração e dispersão no território. O presente artigo amplia essa análise incorporando atividades e serviços prioritários, como os frigoríficos, enquanto mais um fator de difusão espacial da doença, especialmente em sua fase de interiorização no Brasil. A avaliação foi desenvolvida a partir de relações entre frigoríficos e a ocorrência da COVID-19 na Região Sul, analisadas a partir do conceito de territórios da degradação do trabalho e da dinâmica processual da saúde-doença e seus múltiplos determinantes. Os dados relativos à localização dos vínculos e empreendimentos em frigoríficos e os casos confirmados da doença por município foram submetidos a mapeamento utilizando modelos convencionais da cartografia temática e técnicas de geoestatística. Os resultados sugerem áreas críticas e potencialmente críticas, considerando a similaridade e a difusão espacial da doença no âmbito local e regional. Aponta também para a preocupação com a disseminação da doença em virtude dos movimentos pendulares de trabalhadores e trabalhadoras e aponta os frigoríficos como potenciais centros de difusão da COVID-19 nos estados da Região Sul. Em síntese, a relação capital-trabalho e o processo saúde-doença se apresentam como uma das faces das relações sociais de produção e relações assimétricas de poder na sociedade capitalista que colocam os agravos à saúde do/a trabalhador/a como tendência objetiva e não acidental, fortuita ou natural.

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Detalhes do artigo

Como Citar
Heck, F. M., Nascimento Júnior, L., Ruiz, R. C. ., & Menegon, F. A. (2020). Os territórios da degradação do trabalho na região sul e o arranjo organizado a partir da COVID-19: A centralidade dos frigoríficos na difusão espacial da doença. Metodologias E Aprendizado, 3, 54–68. https://doi.org/10.21166/metapre.v3i0.1332
Seção
Mapas e desenhos industriais
Biografia do Autor

Fernando Mendonça Heck, Instituto Federal de São Paulo

Possui graduação em Geografia pela UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná - campus de Marechal Cândido Rondon/PR, Mestrado e Doutorado em Geografia pela FCT/UNESP campus de Presidente Prudente. Autor do livro "No abate de frangos e suínos: o descarte do trabalho" (2017). Atualmente é Professor do Instituto Federal de São Paulo Campus Avançado Tupã. Coordenador do Centro de Estudos Sobre Técnica, Trabalho e Natureza (CETTRAN). Pesquisador da Rede CEGeT de Pesquisadores e do GEOLUTAS - Laboratório de Geografia das Lutas no Campo e na Cidade (UNIOESTE).

Lindberg Nascimento Júnior, Universidade Federal de Santa Catarina

Possui graduação em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (2011), mestrado (2013) e doutorado (2013) em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2018). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina.Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geografia Física e Ensino de geografia. Atua em abordagens relativas à climatologia geográfica, geografia do clima, ensino de geografia física e formação docente, com temáticas orientadas aos estudos da variabilidade climática e clima urbano, riscos e vulnerabilidade, educação geográfica para relações étnico-raciais.

Roberto Carlos Ruiz, Universidade Federal de Santa Catarina

Possui graduação em Medicina pela Universidade São Francisco (1990), com especialização em medicina do trabalho (USF 1992). e residência em clínica médica (PUC SP 1994). Mestrado pela Universidade Estadual de Campinas (2001) em medicina preventiva e social. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Pública, Gestão em Saúde, Educação em Saúde e Saúde do Trabalhador.

Fabrício Augusto Menegon, Universidade Federal de Santa Catarina

Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (1999), Mestrado em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos (2003) e Doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2011). Professor do Departamento de Saúde Pública, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Mestrado Profissional) da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência em projetos na área de Ergonomia e Saúde do Trabalhador, estudos sobre intervenção ergonômica, condições de trabalho, processo saúde-doença no trabalho, epidemiologia ocupacional, políticas e programas em saúde do trabalhador, saúde mental e trabalho.

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