POR QUE ESCOLHEMOS AGIR DE UM MODO E NÃO DE OUTRO? DELIBERAÇÃO MORAL EM ARISTÓTELES
Palavras-chave:
Ética, Ética de Aristóteles, Deliberação moral, Tomada de decisãoResumo
A expressão “tomada de decisão” é recorrente nos debates éticos atuais e está presente em quase todas as áreas do conhecimento, tais como as Ciências Biológicas, Sociais, Humanas, da Saúde, Engenharia/Tecnologia, entre outras. Definir critérios de ocupação de leitos, administrar recursos públicos escassos e traçar estratégias ágeis, eficazes e com poucos riscos de fracasso envolvem “tomada de decisão”. Nas investigações éticas, a “tomada de decisão” repousa sobre teorias da ação e destacam–se entre elas: a kantiana, a utilitarista e, sob controvérsias, a aristotélica. Cada uma indica o percurso pelo qual escolhas e ações humanas se constituem no âmbito moral. Na teoria kantiana, o percurso concentra–se na intenção correta do agente, independente das consequências da ação; na utilitarista, nas consequências da ação, por meio da maximização do bem; em Aristóteles, nas escolhas e ações virtuosas do agente, por meio da boa deliberação (moral). As três pressupõem, em certa medida, que somos responsáveis pelas nossas escolhas e ações, mas é necessário conhecimento e discernimento sobre o que está em questão para que nossas ações sejam consideradas livres e racionais. Este é um dos cenários próprios para as investigações acerca do significado de nos constituirmos como agentes morais e responsáveis pelas escolhas e ações que realizamos. Afinal, se somos livres, por que há tantas restrições morais? Por que estamos submetidas e submetidos a sistemas morais? Será mesmo que as escolhas e ações humanas são livres ou ainda são atravessadas por um determinismo biológico? O que nos constitui como agentes morais? Tais indagações se materializam em frequentes e justificáveis frustrações. Uma delas é: “se sou livre para escolher e agir, por que há ações que me são proibidas moralmente?”. A pesquisa aborda o conceito de deliberação moral, centrada na obra “Ética a Nicômaco” (EN), para a compreensão do que está ao alcance de nossas escolhas e ações, ou seja, daquilo que está em nosso poder, como também contribuir para ampliar e qualificar as reflexões éticas acerca da natureza e do alcance de nossa liberdade com a finalidade de enfrentarmos no Campus IFC–Ibirama, ao menos, questões emergentes, tais como “tomada de decisão” e o mundo do trabalho, “tomada de decisão” e liberdade de expressão, “tomada de decisão” e democracia, entre outras. Por isso, conhecer e analisar a noção de deliberação moral em Aristóteles, e produzir conhecimento acerca da expressão “tomada de decisão” são objetivos dessa pesquisa. Seu método é a pesquisa bibliográfica de caráter teórico e analítico e centradas na leitura e estudo da “Ética a Nicômaco”, especialmente nas noções de sabedoria prática, desejo, deliberação moral, escolha deliberada e ação. Até aqui, a resposta à pergunta “por que escolhemos agir de um modo e não de outro?” envolve o campo moral, o da sabedoria prática (phronesis). Esta, diferentemente da sabedoria teórica (sophia), trabalha nas circunstâncias das ações. O processo de deliberação consiste em “pesar” razões nas circunstâncias, que resulta em uma escolha deliberada que levará o ser humano a agir virtuosamente e a alcançar a finalidade de suas ações, a felicidade (eudaimonia)